Queimaduras possuem diversas causas, tais como: calor, frio, eletricidade, produtos químicos, radiação e fricção. Suas lesões podem ser classificadas de acordo com a extensão e a profundidade.
Extensão das queimaduras
A extensão ou área de superfície corporal queimada (SCQ) pode ser quantificada pela regra dos nove (cabeça e pescoço – 9%, tronco – 18% região anterior e 18% região posterior, membros superiores – 9% cada, membros inferiores – 18% cada, períneo – 1%) ou pela comparação da área queimada com a palma da mão do paciente, a qual equivale a 1% da SCQ. A regra dos nove é não é válida para pacientes pediátricos, que possuem a cabeça proporcionalmente maior. Neste caso, a SCQ é calculada de acordo com uma tabela (Tabela de Lund-Browder).
Profundidade das queimaduras
As queimaduras são classificadas em 3 graus, conforme sua profundidade:
• Queimadura de primeiro grau: superficial, atinge apenas a epiderme (primeira camada da pele). Exemplo: queimadura solar.
• Queimadura de segundo grau: mais profunda que a de primeiro grau, atinge a derme (segunda camada da pele), pode atingir as camadas mais superficiais da derme (segundo grau superficial) até as mais profundas (segundo grau profundo), causa bolhas (flictenas) e é muito dolorosa (exposição de terminações nervosas). Exemplo: queimadura com líquidos quentes.
• Queimadura de terceiro grau: mais profunda que a de segundo grau, atinge todas as camadas da pele e pode atingir gordura, músculos e ossos, apresenta aspecto esbranquiçado e é indolor (destruição de terminações nervosas). Exemplo: queimadura elétrica.
Indicações de internação hospitalar
De acordo com sua localização, extensão e profundidade, as queimaduras podem ser tratadas ambulatorialmente ou necessitar de internação hospitalar. Os critérios para internação são os seguintes:
• Queimaduras de segundo grau atingindo acima de 20% da superfície corporal em adultos ou acima de 10% em crianças e idosos (idade menor que 10 ou maior que 50 anos).
• Queimaduras de segundo ou terceiro grau em face, genitália, períneo, mãos e pés.
• Queimaduras de terceiro grau acima de 5% da superfície corporal.
• Queimaduras circunferenciais.
• Queimaduras elétricas.
• Queimaduras químicas.
• Queimaduras complicadas com infecção.
• Lesão inalatória (queimadura de vias aéreas).
• Condições clínicas e sociais desfavoráveis.
Atendimento inicial do paciente queimado
• Intubação e oferta abundante de oxigênio para pacientes com queimaduras em vias aéreas.
• Hidratação venosa de acordo com a superfície corporal queimada e monitorização através da diurese.
• Remoção de toda a roupa, anéis e relógios das áreas envolvidas.
• Alívio da dor com analgésicos.
• Desbridamentos de bolhas e tecidos desvitalizados.
• Escarotomias em queimaduras circunferenciais de terceiro grau, que comprometem a respiração ou a circulação dos membros.
• Limpeza com antissépticos e troca dos curativos de 12h em 12h.
• Curativos oclusivos com antibióticos tópicos como a sulfadiazina de prata, evitando que os tecidos queimados sejam mais danificados por infecções.
• Alimentação rica em proteínas e calorias devido ao metabolismo acelerado.
• Outros cuidados: atenção especial deve ser dada ao agente causador de queimaduras químicas para evitar novas reações, a validade da vacinação antitetânica deve ser sempre conferida, etc.
Tratamento das queimaduras
Excisões precoces
Queimaduras mais profundas em áreas menores podem ser submetidas à ressecção total e sutura de bordas. Além disso, queimaduras maiores, de espessura parcial profunda (segundo grau profundo), podem ser submetidas à desbridamento e enxertia precoce, diminuindo as chances de haver alterações cicatriciais e sequelas.
Enxertos de pele
Os enxertos cutâneos são muito úteis para o fechamento e proteção de feridas extensas, porém dependem de um leito vascularizado na área receptora para a sua integração. Podem ser doados pelo próprio indivíduo (autoenxertos), por indivíduos da mesma espécie (aloenxertos ou homoenxertos) ou de outras espécies (xenoenxertos ou heteroenxertos), sendo que os dois últimos são indicados quando não há áreas doadoras suficientes no paciente e são usados como curativos biológicos ou cobertura provisória. Quanto a sua espessura, os enxertos de pele podem ser divididos em enxertos de espessura parcial e de espessura total.
Enxertos de pele parcial
Contêm epiderme e parte da derme, que pode variar de espessura (enxertos finos, intermediários ou espessos). Indicação: é o mais utilizado no tratamento de médios e grandes queimados. Formato: podem ser usados como pequenos fragmentos (enxertos em selo), tiras (enxertos em lâmina) ou expandidos através da criação de fenestrações (enxertos em malha). Técnica de retirada: são retirados com aparelhos especiais (dermátomo ou faca de Blair). Áreas doadoras: couro cabeludo, abdome, coxas e costas. Técnica de fixação: podem ser fixados apenas com curativos ou bandagens. Tempo de integração: 7 dias. Vantagens: apresentam maior facilidade de se integrar na área receptora, cobrem grandes superfícies, podem ser expandidos e cobrir áreas maiores usando-se menos enxertos. Desvantagens: sofrem maior contração secundária, ficam mais frágeis e ressecados (necessidade de hidratação constante). Tempo de recuperação da área doadora: quanto mais espesso é o enxerto maior é o tempo de recuperação.
Enxertos de pele total
Contêm epiderme e toda a derme (todas as camadas da pele). Indicação: são usados em pequenas lesões de áreas nobres como face, mãos e dedos, raramente são utilizados no tratamento das queimaduras em sua fase aguda. Formato: geralmente possuem a forma de um fuso. Técnica de retirada: são obtidos através da exérese de fuso de pele e sutura da região doadora. Áreas doadoras: abdome, região inguinal, virilha, regiões retroauriculares. Técnica de fixação: há necessidade de se retirar toda a gordura remanescente sob o enxerto e fixá-lo com sutura e curativo compressivo. Tempo de integração: 7 dias. Vantagens: sofrem menor contração secundária, mimetizam melhor a pele normal, são mais firmes, resistentes e hidratados. Desvantagens: apresentam menor facilidade de se integrar na área receptora, necessitando de leitos ricamente vascularizados, servem apenas para cobrir lesões menores. Tempo de recuperação da área doadora: é rápido e deixa apenas uma cicatriz linear.
Substitutos cutâneos (coberturas provisórias)
A solução consagrada pela cirurgia plástica para perdas do revestimento cutâneo é a enxertia de pele autógena (do próprio indivíduo), porém há casos em que ocorre escassez de áreas doadoras, como em grandes queimados. Atualmente, há muito interesse por materiais biológicos, biossintéticos ou sintéticos que possam substituir a pele, mesmo que provisoriamente, diminuindo o risco de infecções até o momento de uma cobertura definitiva das feridas. Existe uma grande variedade de substitutos cutâneos com diferentes aplicações, vantagens e desvantagens. Infelizmente, a maioria desses materiais ainda é muito cara ou não é liberada na maioria dos Centros de Tratamentos de Queimados existentes no Brasil.
São considerados substitutos de pele:
Aloenxertos
Enxertos doados por indivíduo da mesma espécie. Exemplos: pele de cadáver e membrana amniótica (não são comerciais).
Xenoenxertos
Enxertos doados por seres de outras espécies. Exemplos: derivados da pele de animais (rã, porco, boi).
Substitutos biossintéticos e sintéticos
Materiais produzidos através da engenharia de tecidos. Exemplos: Integra®, Alloderm®, Dermagraft®, etc.
Culturas epiteliais
Queratinócitos humanos cultivados em laboratório (não é comercial).
Retalhos
Retalhos locais, regionais e a distância são úteis para o fechamento de lesões maiores, profundas, sem leito adequado para a pega de enxertos, causadas por queimaduras de terceiro grau. Leia mais sobre retalhos em correção de cicatrizes e defeitos.
Tratamento de sequelas
Medidas como enxertia precoce, uso de malhas compressivas, talas e realização rotineira de fisioterapia motora podem prevenir sequelas em queimaduras. Dentre as sequelas, podemos citar: formação de cicatrizes inestéticas, hipertróficas, queloidianas, retráteis (limitantes), desenvolvimento de úlceras crônicas e degeneração maligna de cicatriz ou úlcera (úlcera de Marjolin). O tratamento de sequelas pode envolver ressecções ou redirecionamento de cicatrizes, uso de retalhos locais, regionais ou à distância, com ou sem expansão, uso de novos enxertos de pele total ou parcial e enxertos compostos.
São exemplos de sequelas após queimadura:
Retração mentotorácica
Bridas que puxam o queixo para baixo e limitam a extensão da cabeça. Tratamento: liberação do queixo (degola) e uso de enxertos ou retalhos expandidos.
Retração cicatricial de dedos das mãos
Bridas que limitam o movimento dos dedos.Tratamento: liberação das articulações através de retalho crossfinger, zetaplastia ou enxertos de pele.
Retração de axilas e cotovelos
Bridas que limitam o movimento dos braços e antebraços. Tratamento: liberação das articulações através de múltiplas zetaplastias, transposição de retalhos ou enxertos de pele.
Deformidades envolvendo mamas ou aréolas
Deslocamentos das mamas ou aréolas no sentido da cicatriz. Tratamento: reposicionamento e simetrização das mamas e aréolas através de zetaplastia, retalho de avanço em V-Y ou enxertos de pele.
Queimaduras
Perguntas Frequentes
São os danos da pele causados por fogo, calor, eletricidade, radiação ou produtos químicos.
Elas são classificadas da seguinte forma:
- Queimaduras de primeiro grau: a pele fica vermelha e dolorida (queimadura leve, por exemplo).
- Queimaduras de segundo grau: o dano é mais profundo e bolhas na pele.
- Queimaduras de terceiro grau: os tecidos de todas as camadas da pele são destruídos.
- A primeira coisa a fazer é limitar a extensão dos danos e para evitar que a queimadura piore.
A área queimada deve ser resfriada, colocando-a sob água corrente fria por vários minutos até que a dor alivie. Se for uma queimadura grande deve ir a um departamento de emergência.
Queimaduras de primeiro grau (que afetam apenas a camada externa da epiderme da pele), como a do sol são tratadas com cremes ou pomadas específicas para isso.
Aquelas que são maiores do que a palma da sua mão.
Queimaduras no rosto, pescoço e mãos.
Todas de terceiro grau.
A maioria das queimaduras de segundo grau.
Lembre-se:
Pode ser difícil distinguir entre queimaduras de segundo grau e terceiro.
Se possível, continue derramando água sobre a queimadura ou use compressas estéreis umedecidas até que seja atendido por pessoal de saúde .
Não manuseie as bolhas (pricking ou remoção da pele).
Nunca aplique pomadas ou outros remédios de casa. A água é a única coisa para usar.
Não se esqueça de tomar a vacina contra o tétano se você não tiver vacinado nos últimos dez anos.
Quando a pele é queimada, ela perde a sua função protetora, o que aumenta o risco de infecção.
Por este motivo é importante que a área danificada esteja bem limpa durante as primeiras seis horas e mantida limpa enquanto ela estiver cicatrizando. Se depois de alguns dias os sinais de infecção (por exemplo, a pele fica vermelha, quente, drene ou a vítima experimente uma dor aguda), você deve consultar um médico.
Queimaduras graves podem causar cicatrizes.
Em casos de queimaduras graves e grandes, o corpo pode perder uma quantidade significativa de líquidos. Isto pode dificultar a circulação sanguínea e causar problemas no equilíbrio do corpo. Estas feridas devem ser tratados no serviço de emergência médica.
Lembre-se que uma avaliação de queimaduras deve ser realizada por um médico, uma queimadura extensa superficial pode levar a complicações graves.
Mantenha as crianças afastadas quando cozinhar (especialmente na preparação de bebidas quentes), usar cafeteiras, churrascos e outros tipos de incêndios. Lembre-se que churrascos podem produzir faíscas, chamas quando se verter líquidos inflamáveis.
Ao preparar o das crianças, primeiro encha a banheira com água fria para evitar o risco de entrar na água muito quente.
Nunca despeje água em óleo fervente (panelas, por exemplo). Isto pode causar uma explosão com consequências graves. O fogo deve ser desligado, cobrindo a panela com uma tampa ou pano úmido.